segunda-feira, 10 de maio de 2021

 Não-fique-calado

Este não é um poema
É um disparate
Como se faz num esquema
Parte a parte
Na arte
Há uma brincadeira
E que é uma verdade
Tanto pela metade
Como por inteira
Na realidade
Não há chance
Em qualquer lance
Vale mais que o silêncio
Ossos do ofício
Diga no ouvido do seu vizinho
Uma pergunta
Ouça do outro vizinho
A resposta
É como qualquer aposta
Tão idiota
Mas é imposta
Como casar-se de fatiota

 Corte Cirúrgico

Por que me engano tanto?
Tenho dito há tempos...
Essas vozes que são as minhas,
Ecoam como cicatrizes que não se curam.
Estão todas por debaixo da pele,
Às vezes, reprimidas e tão suscetíveis
Ao medo.
Eu temo pela invisibilidade
Que não desaparece.
E quando elas crescem, ativam a minha barbárie.
É desse anjo maldito,
Oculto, incubado,
Que se alimenta da minha derme,
Encobrindo o meu destino.
?caminho sem volta
O que me resta é o que anda disfarçado,
Sorrindo ao meu lado,
Drenando o meu sangue
Que é mais vital à vida de um vampiro.
Sou eu essa criatura... um morto-vivo.
É porque me engano tanto!

 Enquanto isso...

fala de mim
como se falasse
tanto
de quem o conhecesse...
qual é o seu interesse
por mim?
anjo
nem vem...
se não lhe vejo
nem sei
ouvir a voz de um anjo
pode ser engano
ou pode ser demônio
ou pode ser dois insanos...
demônios
todo mundo tem
alguns não vale um vintém
outros fingem muito bem
fala de mim
que nem a vizinha do lado
que me chama de coração...
que inferno de paixão
Deus me acuda
Livrai-me dessa confusão

 Por Inteiro

A pior parte já passou
Agora é só o começo da outra parte
Que se soma ao princípio de tudo
E no final nada se divide
Apenas se multiplica
Pois toda a diferença se unifica
Igualmente

 espelhado

tão louco
é encontrar
um outro louco
que quer me imaginar
cara
mente
frente
e verso
tão louco
é me imaginar
num outro louco
que quer me encontrar
alma
osso
carne
corpo

 JULGAMENTO DE DEUS SOBRE OS HOMENS

não julgo ninguém
nem a mim mesmo
mesmo que a minha cabeça
se pareça como um tribunal
cheia de sentenças
entre culpados e absolvidos
não me perdoo mais
nem me sacrifico
sou réu
do meu próprio crime
criminoso que sou
por pensar demais
pensar que Deus não sou eu
nem homem de Deus
quem eu sou?
são tantas blasfêmias
como acreditar em estrelas
que caem do céu
loucura é não duvidar
na existência da curva
da estrutura perpendicular
de um ângulo reto
tão longe, tão perto
só pra lhe encontrar

domingo, 9 de maio de 2021

 ACORDOU DO DESFALECIMENTO

QUANDO DEU COM A CARA NO CHÃO

Algo dentro de mim
Se espatifou
E no impacto o meu coração
Colidiu com a razão
Algo parecido me aconteceu
Na minha adolescência
Como se fosse aquela canção
Guardada em algum lugar da consciência
Algo assim que vem
É como as lembranças da infância
Que aparecem repentinamente
Talvez seja pra se entender à sua existência
Algo dentro de mim
Acordou
E me libertou do vazio
Enchendo-me de paz e amor