quarta-feira, 28 de outubro de 2020

 igual a um cão

o primeiro amor
foi sem pudor
não havia inocência
e a pouca decência
era a minha nudez
não era vergonha
tão pouco timidez
transar nas esquinas
em noites de lua cheia
poesia talvez
a minha mente era ocupada
de coisas devassas
sem coisas rígidas
animal natural
eu não sei
eu era um cão de guarda
contagiado das minhas ideias e
das minhas idas e vindas
nas encruzilhadas
que me distinguia do movimento da massa
mordia
tão forte
com os meus dentes
caninos
rasgando poemas
e de tão feroz
contra os ritos sociais
civilização e convenções
as pessoas me desprezavam
de tão sadio que era a minha insanidade
diziam por aí
louco selvagem
mas eu nunca fui capaz
de ferir
a dignidade de quem quis ser feliz
o meu primeiro amor
oferecia
a liberdade do sofrimento
nem Deus nem homens
apenas o amor verdadeiro

 Sou Eu Pelo Avesso


Sou eu que ando
Com pouquíssimos amigos
Mas ando mais
É mesmo comigo
Pois compreendo
O meu próprio cinismo

Sou eu avesso
A tudo que me anula
Mesmo que seja
Um belo sorriso
Vindo de um olhar
Que seduz ao paraíso

Sou eu ainda um sonhador
Que se perde no prazer
E na saudade
Represada no rio
Que me afoga nas margens
Tão secas e frágeis

Sou eu pouco forte
Pouco fraco
Diante do beco
É quando me perco
Quando me deparo
Com a realidade

Sou eu que duvido
E acredito
Nas coisas incertas da vida
Pois às vezes é a minha única saída
Que se abre
A uma outra sobrevida

Sou eu tão duro
Como a água
Que na pedra bate
E mesmo assim
Acaricia a triste alegria
Que em outras vezes me é vital

terça-feira, 27 de outubro de 2020

 O Barqueiro (até que a morte nos separe)

minha cara
não tem cartaz
não me faço público
nem dou a face
a quem mal me faz
não sou o ceifador
tampouco o anjo da morte
também não estou a espera do eclipse
pra decidir qual lado está a minha sorte
pois tenho amor e tenho dor
faço da minha força a minha foice
mesmo diante dos Cavaleiros do Apocalipse
não temo queimar no mármore do inferno
já sei quem é o barqueiro
que me carregará em seus braços

domingo, 25 de outubro de 2020

 Ordem Geral

tão adocicado
mostrou-se o tirano
ao ser candidato
aos direitos e deveres
do seu povo fragilizado
semeou sonhos ensanguentados
no ventre do diabo
renovou contratos
caridades para seus votos
mais um partido vendido
continuou nos manifestos
recebendo mendigos
prometendo mundos e fundos
e mais um sorriso largo
diante de beijos e aplausos
cartazes e panfletagens
mãos dadas e abraços apertados
subiu no palanque
e ditou a nova ordem
tão velha quanto vampiro
e já vencedor
elegeu-se soberano de tudo
encarcerou adversários
arrancou crucifixos
e baniu a diversidade
não há outra verdade
além da sua verdade
o poder subiu à sua cabeça
e logo venho a primeira sentença
aqui jaz a liberdade

sábado, 24 de outubro de 2020

 O Salto

A terra anda, tão, plana,
Que a minha mente
Anda insana.
Na beira do abismo
Cai a água corrente
E eu me ajusto num mimetismo...
Me adapto ao risco,
Ao fim do mundo,
Ao início do paraíso...
A terra anda tão insana,
Que a minha mente
Anda plana.
Na beira do suicídio
Ainda há o eco
Que me silencia
Não há para quedas,
Nem anjos caídos,
Apenas há a queda livre...

terça-feira, 20 de outubro de 2020

 não explica

nunca pensei que imaginar
fosse tão difícil
até cheguei a pensar
que ficava escondido
por detrás de um sorriso
mas é quando eu sonho
é que sinto
e sinto algo até meio estranho
voando voando
enquanto navego perdido
é tudo assim
parece sem pé nem cabeça
tantos mundos
pensamentos e ventos
que me levam sem rumo
é tudo nada
pois depois que os olhos se abrem
o que existe é terra que se move
que te engole
palavra por palavra

 Quarto Escuro

Eu estou, tão, por aí...
Não tenho, que decidir
Se vou ficar ou se vou partir,
Por mais que eu sinta saudades...
E sentir saudades do que eu nunca vivi de verdade,
É algo tão comum em mim...
Tudo bem, eu ando, assim, ultimamente
Sentindo falta do que eu ainda não perdi
Na realidade...
Nos sonhos, tenho tido muitas perdas,
Tantas caras e tantas caretas...
Não é brincadeira de artes cênicas.
O palco da vida não é fantasia
Mas, a fantasia, ainda, é a cura pra qualquer tristeza.
É o meu maior esconderijo dessa vida inteira.
Às vezes, me fantasio de um largo sorriso,
Que até pode parecer meio farsante.
E outras vezes, sou eu mesmo vestido...
Eu estou tão por aí,
Tão perto da felicidade,
Tão longe de qualquer saída...

domingo, 11 de outubro de 2020

 MIMETISMO

Um erro
Dos sentidos
Uma imagem
Que surge
Da imaginação
Uma esperança
Em vão
Uma camuflagem
De quem é camaleão
Eu não quero o coração de ninguém,
Já me identifiquei comigo mesmo...
Não sou de iludir outras mentes.
Faço isso, há muito tempo, comigo.
E quando me olho no espelho,
O que vejo, são sonhos verdadeiros
Daqueles sonhos eternos,
Dos eternos enganos dos sentidos.
Eu não quero criar ilusionismo
Pois, já sou tudo isso...
Eu sou um farsante,
Vestindo de bom homem,
Tão produzido,
Que causa esses efeitos artísticos.
Mas, tudo não passa de erros de percepção
Ou interpretação errônea da sua mente.