LIVRAI-NOS DE NÓS

estamos cheios de sonhos

cheios de demônios

e não há nem uma cura

pra toda essa loucura

de sermos o que somos

 MINHA CASA VAZIA

Detonei-me no primeiro dia

Era pra ser diferente

Mas estraguei na última cena

Tomei-me de insanidade pura

E deixei a minha noite vazia

Sem estrelas e sem lua

Envolvido pelo silêncio

A minha alma penada

Se perdia pelas ruas

Nas esquinas do desespero

Em busca do meu equilíbrio

Que andava com medo

Preso em velhos delírios

De uma nova poesia vagabunda

 açoite

desvendei meu destino

desafiante que sou

Pois cada um pode ser cretino

Com o seu próprio amor

não li nas linhas da mão

qualquer caminho

que me levasse somente à ilusão

era nas entranhas... intestinos

era o âmago o meu mundo

o meu umbigo a minha solidão

outrora andando em desatino

prossegui na contramão

e sem qualquer castigo

agora me desligo

das coisas do coração

sem ter que ter a razão

açoita-me à meia-noite

devasta-me na imensidão

e de tão íntimo

corta-me os laços

de tanto que me bate com força

escorre sangue das minhas lágrimas

me marcando na memória

me forjando o que sou agora

 sobrevivente

todo o santo dia eu morro

pra renascer de novo

com todos os meus demônios

meu grito

ecoa

entre moucos e loucos

dessa multidão

que me habita

todo o santo dia

à noite escura do meu quarto

sussurram as vozes da solidão

e eu todo ouvidos

aos delírios do coração

me finjo de olvido

ao que diz a razão

?que razão

 Eliminar?

meu poema

não é teu objeto

pra usar

e jogar fora

mas

agora

nem tente desmarcar

restaurar

ou arquivar

a melhor ideia

é eliminar da tua vida

a minha breve história

 UmA fOrMa Que InFoRmA é TaMbÉm A mEsMa QuE tE dEfoRmA

sou de livre escolha...

o que é tudo?

é cheio que me esvazia.

não há destino,

nem interpretação,

apenas há uma saída.

vá

até lá

e te espia

e se por acaso

der de cara com a poesia,

essa porra

que te enche o saco,

até pode aliviar

a tal de fantasia...

vá até lá e te espia,

embora a vida é sempre assim,

o que te fode, nasce e morre...

 A IRMÃ DA VIDA

de corpo presente

cai e repousa

cheia de amor

em paz descansa

no berço da infância

de alma ausente

a irmã da vida

brinca

todo dia

mesmo na seriedade

do dia a dia

às vezes

de pega-pega

outras vezes de esconde-esconde

e

quando menos se espera

vem a perfídia

e rapidamente a vida é atraída

pelo beijo quente

que lentamente

se esfria

 a vida canina

ando como um cão

de rua

sem ter riquezas

sem ter apegos

ando por aí

vira-lata de mim mesmo

ando como um cão

de rua

em total desprezo

à vida sofisticada

caminho feliz

com as minhas quatro patas

ando como um cão de rua

comendo o vento

e bebendo o nada

essa é a realidade

não há sonhos se não há verdade

em uma vida simples

 cinismo

você olhou pra mim

e eu fingi que não vi

eu já estava feliz

por estar ali

sem precisar de ninguém

e no fim

foi de você que mais precisei

 em desequilíbrio

e, de repente, na vertigem

apareceu das alturas

o anjo decadente,

expulso do paraíso

e proibido de ser gente.

 Luz de todas as estrelas

Repare no que vou lhe dizer

E se não conseguir me ouvir,

Olhe nos meus olhos

E veja o que mais ninguém consegue ver...

A vida anda como rasteja a serpente,

Não há uma linha reta,

Nem o destino segue como se pensa.

Mas, o caminho é seguir em frente...

Existe tanta gente à espera de um milagre.

Mas, toda a entrega é o que separa o sonho da realidade.

Divina é a palavra que não se enxerga

Quando se anda às claras...

Se há o amor , existe a esperança.

É como escutar o silêncio às cegas.

É como não ter dúvidas do Divino Poder.

Se há no amor, também, há na alma humana.

 NÃO ME IDENTIFICO COM O TODO NEM COM O RESTO

sinto o gosto do que não provo

mas sei do desgosto que me causa

só no imaginar o sabor da desgraça

se te sinto como veneno

se me sinto envenenado

em parte me vem em versos

às vezes em doses duplas

outras vezes em um gole só

e o que me desce seco e direto

me transforma em louco poeta

que vive à margem de qualquer decreto

que gosto tem ferir o outro

que ódio é esse de amor torto

é o que te faz acreditar no sucesso

sinto o teu gosto quando está por perto

é o que me causa desgosto

é como a picada de inseto

que suga o sangue em teu silêncio

é como o teu desejo de ser-humano-objeto

 eu sinto o mundo dentro de outros mundos

tenho o amor

tenho a loucura

tenho o sonho

tenho a dor

tenho a cura

e tenho de tudo um pouco

como toda a poesia suja e pura

e tenho de tudo e mais um pouco

enquanto vivo

sinto carne corpo e espírito

até que a mente humana

se depare com a minha morte

 INTRANSFERÍVEL

Não me encaixo em nada

Pois nem tudo é abracadabra

Chega dessa coisa

Que tudo pode acontecer

Num passe de mágica

Não me encaixo em nada

Talvez por ser eu

Por eu ser ininteligível

Sou eu como sou

Alvo de mim mesmo

Não me encaixo em nada

E quem sabe a única medida certa

Seja um caixão

Pra que as velas fiquem acesas

E deem luzes ao poeta

 INTOCÁVEL

tenho em mim

verdades inconfessáveis

mas que todos os loucos

dentro de mim já sabem

tantos amores inesquecíveis

tantas paixões fantasmas

que só eu posso tocá-las

tudo o que faz sentido

é inalcançável

nada irreversível como as utopias

 Amor e Sexo

não sei do resto

só sei do excesso

o resto é o que não presta

é sobra que fica pra outra hora

o excesso vem com pressa

e pouco interessa o depois

agora é amor e sexo

agora é sexo e amor

 Uma Eterna Despedida

acordar pra realidade

é o que nos mata

me acordei dentro d'outro sonho

e você ainda estava lá

nada havia acabado

você continuou repetindo

e repetindo eu te amo

que amor inesquecível

que sonho inalcançável

 NEM TODO AMOR É POESIA ÀS VEZES É SÓ ESTAR E OUTRAS VEZES É GUERRA FRIA

Tão livre pra amar,

Nem sempre é

Querer estar...

As asas se desprendem

E o pássaro voa em paz.

Voa pra fora do ninho

Ou fora do lugar...

Voa em busca de carinho.

As palavras andam soltas

Em qualquer caminho.

Alguma coisa ainda vai despertar

No meio do destino...

Sempre há o acaso que lhe pega sozinho.

É no abraço que se aquece,

É no beijo que não se esquece.

Nem todo amor é poesia

Às vezes é só estar

E outras vezes é guerra fria

 Por um fio

Foi tudo perdido

E o coração partido.

Fodido, sem sentido...

Foi de livre arbítrio,

Eu sei...

Às vezes, é assim que tem que ser.

É quando se perde o rumo

E se vê as ideias desabando na vertical.

Eu sei...

Outras vezes, é mesmo sem querer.

É quando se perde o prumo

E o fio da vida se estende na horizontal.

Foi tudo permitido

E, às pressas, parido.

Foi num instante o sorriso

E de repente as lágrimas caindo.

 s/t

Em tempos digitais

Eu sinto a saudade

Como cor atemporal

Analógica ao preto e branco

 DIZ-ME

poesia minha

de cada dia

de onde tu vens

pra onde tu vais

és tu

na palavra sublime

que me habita

acima de tudo

és tu

no verso controverso

do mundo do deus belo

no limiar da porta do inferno

em cada dia da noite escura

como se fosse toda a cura

em cada verso eu me confesso

és tão visível que me cego

no verbo

me expresso

alma

e corpo nu

poesia minha de cada dia

morada da minha solidão

és a paixão de todos

és o nada na multidão

és em cada frase

frágil como as pétalas da flor

pois aqui não há metástase

o que floresce e me consome é só o teu amor

 MUNDO DAS MINHAS IDEIAS

Quero me conhecer

Pra dar algum sentido

Ao que sinto.

Às vezes, é, tão, difícil

Entender o espírito da coisa

E de mim mesmo.

As dúvidas estão presentes,

Por dentro e por fora,

E sempre estarão...

É preciso mais do que a percepção

Ou de qualquer impressão.

Então, cadê a razão que não quer me enganar?

Toda ilusão que eu tenho

Não é falsa, nem é medo.

Essa é a minha única certeza.

E, talvez essa experiência sensível

Que me toma feito paixão,

Seja a minha melhor explicação.

Enfim, eu quero dar forma

Ao meu mundo inteiro,

Pra conquistar meus sonhos verdadeiros.

Apenas, quero a segurança do que eu sou.

Não busco a completude do saber,

Tampouco a certeza absoluta.

Quero é me olhar no espelho

E não me estranhar

Com os meus próprios sentimentos.

 PULSÃO

Lá vai a minha sorte

Apostar em outro coração

E

Que razão

Eu tenho

Pra dizer que não

Até parece um anjo cupido

Carregando as suas flechas venenosas

E

Que razão

Eu tenho

Pra dizer que não

Lá vai a minha sorte

Mirar na vida ou na morte

E

Talvez me faça um corte

Na alma e no corpo

Sofrimento e fogo

Lá vai a minha sorte

Mirar em outro coração

E

Talvez me traga mais uma ilusão

Dessas boas e ruins

Que me provoca uma outra paixão

Lá vai o meu coração novamente

Ser o paciente de um amor em êxtase