segunda-feira, 30 de abril de 2018

Num Pesado Pesadelo

A Casa é Santa...
É praça do lar doce lar?
Qualquer graça
Requer acreditar que algo é possível,
Mesmo na desgraça
Ou na maneira de se ver.
O dia a dia passa...
...passa tudo o que deixa de ser.

Não há mais palavras
Pra poder dizer sobre a pobreza
E o mal real de assim se viver...
O corpo quando sente as agruras
É porque a mente, já, nem consegue
Chamar a vontade, pra se fortalecer...
Pois, não há mais doçura, nem viço
Então, só resta o banco do descanso

Já, não há mais algemas rígidas,
Nem o que nutre a violência...
Apenas, há a sombra de uma árvore
Que, ainda protege a alma tristonha.
É o que há demais perigoso e fatal...
Essa é a solidão, que culpa e pune
A carne encharcada de suor e lágrimas,
Onde o peso da cabeça cai sobre a consciência.

(baseado na fotografia de Leandro Selister - tristicidade)

domingo, 29 de abril de 2018

Meu Lar

moro
é aqui
e vendo
chás e afins...
vidas
que passam
passagens
pra ir e vir...
saudades
de casa (?)
meu lar
é aqui (?)
vidas
que ocupam
lugares
que não se mudam
moro
é aqui
quase esquecido
a espera do sonho se avivar

(baseado em fotografia de Leandro Selister - tristicidade)
CONTÊINERES DE LIXO
(mais uma condição pra se viver na rua)

impacto!
ora compaixão,
ora repressão.
decifra-me
que te devoro
entre vários corpos.
O que há
dentro da boca da esfinge,
Além dessa qualidade imunda de vida?
há só cascas e restos...
pó de café, erva-mate
e papéis sujos.
há de tudo um pouco,
sobras de comida...
...resíduos orgânicos
e há todo o restante da cidade,
que vem e que vai do Centro até o Bom Fim
pra dentro do que será de mim.
é somente o que será de mim...
enquanto o Moinhos de Vento gira,
são tantos contêineres girando por aí
o que há dentro da boca da esfinge,
é o que não quer salvar... o que será?
um Menino Deus ou uma Santa Cecília.
será que há uma travessia
por onde eu ando sem pressa...
um Rio Branco que não passa na Floresta.
será que há uma trégua
na ponte da Azenha...
Farroupilha ou Independência.
será que Santana era Santa Ana,
um lugar da minha infância
ou da minha mendicância?
o que pode mudar quando se vive nas ruas,
sendo engolido pelas bocas de contêineres
à procura de alguma esperança?
(sobre a fotografia de Fernanda P Pedroso - treisticidade)
NO LEITO QUE SEGUE A TUA VIDA

à margem das agruras
e sem viço
qualquer instante é doçura
como um sonho louco
diante do sorriso da lúcida loucura
tudo é bem pouco
diante do meu corpo
que bem mais sucumbe
quanto as batidas do coração
se a razão não posso ter - permaneça a magoa
rápido como sempre me dão
a compaixão e logo me reprimem
nem sim, nem não
apenas as sobras de comida
é que me libertam da prisão
e mesmo que a vida passe
na velocidade absurda
dos automóveis estacionados
quando eu me acordar
ainda haverá sobre o meu rosto, olhares maldosos

(sobre a fotografia de Regina Veiga 2 - triticidade)
o espetáculo vai começar!
(panem et circenses)

...e que venha a resistência:
soltem os gladiadores e as feras
no palco do arena.
o que há em cima?
ainda há a beleza em cena,
na estrutura de concreto armado
o que há em baixo?
as tristes figuras de um fiel retrato...
é o espetáculo da política do descaso.
não fechem os olhos,
há tantas vidas lá fora
debaixo de caixas de papelões e compensados.
não abra as portas
pra quem investe nesse horror de espetáculo.
faça do seu corpo o efeito... o ato.
por mais que doa,
não pense na censura,
nem na ditadura.
por mais que doa,
faça de sua palavra
a arma mais dura.
nas ruas, nas calçadas,
nos viadutos, nos bancos das praças,
existem moradores à beira da desgraça.
então, chega!
vamos dar um basta...
deem as mãos.
então, chega!
vamos iluminar as escadarias.
nem circo, nem pão.
vamos dar abrigo
à quem precisa de um novo mundo pra viver.
...pra quem nunca ganhou e sempre soube o que é perder.
vamos dar amor e paz
pra quem precisa se libertar da "coisa pública"
da coisa que nada oferece aos moradores de rua.

(sobre a fotografia cctvnow - triticidade)
PARE!

Pare!
Isso é mais que barbárie.
Agora
O sinal está no vermelho.
O posso está transbordando,
Tomando a alma de um velho guerreiro.
Pare!
Não siga em frente,
Ainda há sentimentos contidos no peito.
Agora
Há um olhar igual ao seu,
Que sente o mesmo com a sensibilidade de uma flor.
O corpo que está caído
Sente todos os queixumes do tempo
E todas as emoções que habitam em nossos corações.
sbs
(sobre a fotografia de Leandro Selister - tristicidade)
EXAUSTÃO

Meus pés encharcados
São como os meus cílios.
E a rigidez dos meus olhos,
Acalmam a alma do meu coração.
Meu descanso é o da hora
E a qualquer hora eu paro em vão
Pois, meus sonhos são tristonhos.
Não há mais céus, apenas o fel do chão.
Mas, apesar de tudo, ainda assim, sou sutil.
E mesmo que o vazio de pensamentos,
Vague em meus sentimentos
Eu os encho de desejos, sem querer ferir alguém.

(sobre a fotografia teka_sp88 - tristicidade)
DURMA EM PAZ

Há um Deus que condena
Qualquer delito.
E, é quem enche os céus
Com anjos malditos (?)
Será que o perdão é a cura
E quem é que nos eleva as alturas?
Será o mesmo que nos dá a queda livre
Pra livrai-nos das dores.
O caminho é bruto
E o sossego no ninho
Parte o silêncio,
Despertando o canto das blasfêmias.
E no doce recanto
Das escadarias eternas,
Soam as blandícias
Dos tempos efêmeros.
Pobre homem que se cobre do frio
Qual foi o crime que você cometeu?
Qual é a lei pra esse perpétuo martírio
Será por ser um livre ateu (?)

(sobre a fotografia de Elisa Faccioli - tristicidade)

sexta-feira, 27 de abril de 2018

Transitar no intransitável

identifico o risco
mas, não consigo eliminar
esse é o resultado do descaso
é mais um buraco
e após o colapso
ninguém pode escapar
identifico por onde passo
e a cada passo há um buraco a mais
e mais um e um do outro e outro do um
é o tempo e é o espaço
na insegurança da segurança
entre a cor preta e a faixa branca
identifico a sinalização
cuidado com o perigo
que se inicia com um inexpressivo buraco
e se torna o maior abismo no coração
é mais um aviso bem no caminho
cuidado com a asfáltica pavimentação

(sobre foto de Elisa Faccioli - tristicidade)
PAISAGEM DA POESIA CONCRETA

Quero abandonar
meu destino
pra novamente poder 
sentir a luz do sol
Quero acreditar
no acaso
pra não envelhecer
sem sentir o tempo passar
Quero, é andar pelas ruas
sem ter que me esconder
pelas calçadas
encoberto de solidão
Quero, é só um afago
de um abraço
e não de um pardo papelão
de um presente caro
Quero me sentir vivo
como as rosas flores
Quero me sentir limpo e verdadeiro
como as cores... as cores, as cores...

(baseado em fotografia de Soraya Girotto- Tristicidade)
ACOLHIMENTO

Por um momento
eu descanso em paz...
...e que paz?
Em meu peito
arde sede, arde fome,
enquanto as folhas secas
se movem...
,,,movem-se, levando as horas.
Aquelas horas que o tempo
é incapaz de perdoar.
Meu maior pesadelo
é o meu maior sustento.
sacos pretos
sacos pretos
Por um momento
a calçada é o meu berço.
sacos pretos
sacos pretos
Por um momento
o meu coração adormece
nos braços estendidos
desse colchão de solteiro.
Por um momento
?será que Deus está vendo.
Mas, o teu olhar eu sei...
Eu sei do frio e da falta de acolhimento.

(baseado em foto de Leandro Selister - Tristicidade)

terça-feira, 24 de abril de 2018

Campos Neutrais

Existe dentro de mim
Uma faixa de terra desabitada
E que fica mais para o sul
Existe dentro de mim
Uma imensa esperança
Cuja a posse não pertence a ninguém
É como um coração
Que não se prende
É como uma a alma em flama
Gerando luz para sempre
Existe dentro de mim
Um caos à espera de um princípio
Que gere novas sementes
Existe dentro de mim
Dois países que evitam o confronto direto
Sou exército da paz e sou exército da guerra
É como a criação do universo
Entre a desordem do infinito
É como estar vivo entre os Campos Neutrais
E do outro lado dos Campos Elísios

segunda-feira, 23 de abril de 2018

ENFIM
O FIM É PRA SE REVIVER
MOMENTOS AFINS
QUE SE VIVEU TRISTE OU FELIZ

Como é nobre a beleza humana
Ainda mais quando ela nasce linda
Linda e linda...
E como pode essa flor magnifica
Se transformar em uma forma física
Quase que desconhecida...
Me diga vida
...me diga?
Ainda sinto em minha alma
O reflexo da imagem do espelho
Como a minha pele era pura seda
Ao olhar da lua serena...
Me diga vida
...me diga?
O tempo é implacável
E eu mais ainda...
Me diga vida... me diga
Livrai-me dessa obsessão
Esse apego de querer ser só aparências
Livrar-me desse espírito de cão
Só quero luz e cor em minha alma
Só quero o calor e a cura
Só quero o riso e o beijo
Só quero o abraço e o amor
Me diga vida
...me diga?

domingo, 22 de abril de 2018

MODELO VIVO
(moradores de rua)

A face já não é mais oculta,
Nem tão pouco dar a outra face
Irá redimir alguém...
Não há mártir pra sufocar
A tristonha humanidade
Que se nutre da agonia sombria
Do seu criado-mudo...
Amém!
Os nossos olhares que vagam
Como se não vissem mais ninguém,
Escapam das feridas abertas.
Levanta-se a cabeça
E as visões são as mais preciosas
Que se têm...
...vestidos suntuosos e frascos de perfumes
Meu bem!
A face da Tristicidade invade infinitamente
Os corações e as mentes
De quem vai e de quem vem...
É assim que o pobre abraçado
Em um cobertor amarelo encharcado
De suor, lágrimas e sonhos partidos,
Sonha acordado em mais um suicídio.
Tristicidade
Que se expande pelas calçadas,
Com móveis de compensados
Sofás e travesseiros
Antes inutilizados...
O chão é a casa das portas e das janelas
Abertas.
E o ser humano que ali sobrevive
Como se fosse uma esfinge,
Como se fosse parte da viva vitrine,
Como se fosse a parte de nosso lixo...
...nada mais é
do que nunca
ter sido.
ah, Tristicidade...

(baseado em uma fotografia de Leandro Selister em Tristicidade)

sábado, 21 de abril de 2018

SECRETOS TORMENTOS

Sentiu-se em completo abandono,
Longe de tudo, longe do mundo.
Abraçou-se à solitude do seu eu introspectivo
E sem ter o amor por perto, mesmo nas horas incertas,
Ficou somente na vontade de uma certeza: a saudade.
Sutil como todos os seus sentimentos, viu-se mais partido...
Mas, como sempre se manteve em paz,
Por mais que a dor fosse o seu algoz,
Percorreu os caminhos que cruzam o abismo sentimental.
E, lá, encontrou a estranha criatura, mesmo que impura,
Ela o alimentou com água, terra, fogo e ar...
E nunca mais, ele, voltou a ser uma alma entristecida
Ergueu-se novamente e foi atrás dos sonhos impossíveis.

sexta-feira, 20 de abril de 2018

Gênio Poético

Embriaguez
É quando me sinto
Humano destroçado
Pelos caminhos tortos
Que meu corpo sólido
Erra...
...erro a cada passo


É assim...
Espirito agônico
De alma velha
Me submeto
Ao que me agita
E me deixa inquieto
Esse ruído de vozes

Esses remorsos versos
Que me culpam
Em êxtase
O meu estranho humor
Ignoram meu mundo
Dessa minha pobre vida
Esquecida em sono profundo

Furor
É o que tudo existe
Em meu universo
Mas
Não me importo
O que corre
De boca em boca

Nem me importo
Com essas tropas de animais...
...anjos Caídos
Entre deuses e mitos
E enquanto acontece tudo isso
O velho maldito satírico Satanás
Solfeja a sua flauta em notas rítmicas

Nem me importo com essas tolices
Pois sou tão idiota quanto os versos de amor
Onde o meu coração cheio de florações
Aos raios de sol e até o sol se pôr
Iluminam o tédio do meu cérebro entristecido
Quase morro...
Mas logo sinto o açoite nos sinos que cantam à vida
A incerteza 
Está contida
Nos tecidos
Que tramam
O universo.

sábado, 14 de abril de 2018

"quando piso descalça na areia da praia, volto a ser criança mais uma vez!" 

Descalço 
É que me sinto,
Sobre a areia da praia,
Uma criança...
...e me vem um sorriso
Como aqueles sorrisos de infância,
Inocente (ah, como deveria ter sido pra sempre)
Tão cheio de lembranças (sentimentos em ritmos)
E, lá, vem a esperança...

É assim que me sinto
Como a luz frágil da manhã,
Crescendo lentamente com força de titãs...
E, tão, serenamente
A cada passo, marco o meu espaço
Entre grãos de areia...
Escrevendo com os pés descalços,
Como se fossem rastros de sereia,
Minha emoção, que as guardo na memória.


(título e poema baseado em Nadia Raupp Meucci)

sexta-feira, 13 de abril de 2018

Sou o Programa do Projeto Objeto em um Plano para o Fim

Uma parte de mim
É intenção
Conscientemente ou não
E que me pergunta
Por que pretendo fazer...
...e fazer porque faço!

Uma outra parte é o que sou...
Sou como me vejo no espelho
E, assim, como todos me veem
Me veem e acham que me conhecem...
É quando as aparências enganam
E me enganam...

domingo, 8 de abril de 2018

A ARTE QUE NOS MOVE
É A MESMA ARTE QUE NOS DEVOLVE
EM SENTIMENTOS, QUAISQUER LOUCURAS
PELA CURA DE NOSSA DOENTE RAZÃO DE SERMOS
A arte clama...
Chega de política analítica
E completamente insana.
A arte ainda é a chama,
É a libélula com o libelo nas asas da liberdade.
A arte é o depois,
O agora e o antes...
É a detentora do estandarte
Que move a revolução das ideias,
É o nosso instante...
Vamos dar as mãos
E mostrarmos que o amor sempre vence.
Não há mais espaço pra incompreensão.
Vamos salvar o que ainda nos resta:
A consciência da paz.
Vamos acreditar na paixão
E qualquer fé que nos leve a redenção.
Vamos lutar pelo que a vida nos insiste em nos mostrar...
A nossa permanência, aqui, não é em vão
Então, vamos pois, o propósito é bem maior...
A arte é o mais belo caminho,
É o caminho do meio entre mente e coração.
Chega de tolices!
O céu ainda é o nosso infinito.
Mas, a terra é o nosso bem finito maior!

sexta-feira, 6 de abril de 2018

Individual Que Sou
(canção bossa nova)

Eu tenho medo de te dizer
Que te quero tanto... tanto
Eu tenho medo...
Medo de te dizer...
Medo... medo...
Por que as coisas tem que ser assim (?)
O amor é algo, tão, maravilhoso
Que me deixa assim...
Me deixa com esse jeito insano
Insano louco... louco... louco...
Eu tenho medo de te dizer
Que te quero tanto... tanto...
Eu tenho tanto medo...
Medo desse sentimento
Que me tira o sono, que me tira o tempo
Será que sou
Eu mesmo...
Individual que sou
Infinitamente
Eu mesmo...
Por que as coisas tem que ser assim ?
Ganhando ou perdendo...
Parece que nada muda com o tempo
E tudo chega ao fim...
É porque eu tenho medo... medo... medo...
Será que sou
Eu mesmo...
Sem ter você aqui
Sem ter que dividir o meu tempo
É o que me deixa assim, com medo... medo... medo...
AFUZEL!

eu encarava fácil...
...ia de boa, mesmo!
mas, como sou exagerado 
então, assistirei de longe o espetáculo
muito afu o movimento...

domingo, 1 de abril de 2018

P.S. – post scriptum

Antes da cirurgia...
Sinto-me vivo
É a principal aparência
Um corpo deitado
Uma luz no teto
Uma agulha na veia
Um rosto de médico
Anestesia
Geral...
Amnésia
Total...
Durante a cirurgia...
Não me sinto
Nem consciência
Nem alma ou espírito
Após a cirurgia...
Acordo do nada
Não há traumatismos
Uma consciência acordada
Uma respiração sentida
Um coração e as suas batidas
Uma volta sem partida
A uma reflexão...
Talvez, seja assim a morte
Um toque de sedação
E tudo desaparece no ar
P.S.
,,,nem há anjos
...nem há demônios
...nem há mais você