domingo, 22 de abril de 2018

MODELO VIVO
(moradores de rua)

A face já não é mais oculta,
Nem tão pouco dar a outra face
Irá redimir alguém...
Não há mártir pra sufocar
A tristonha humanidade
Que se nutre da agonia sombria
Do seu criado-mudo...
Amém!
Os nossos olhares que vagam
Como se não vissem mais ninguém,
Escapam das feridas abertas.
Levanta-se a cabeça
E as visões são as mais preciosas
Que se têm...
...vestidos suntuosos e frascos de perfumes
Meu bem!
A face da Tristicidade invade infinitamente
Os corações e as mentes
De quem vai e de quem vem...
É assim que o pobre abraçado
Em um cobertor amarelo encharcado
De suor, lágrimas e sonhos partidos,
Sonha acordado em mais um suicídio.
Tristicidade
Que se expande pelas calçadas,
Com móveis de compensados
Sofás e travesseiros
Antes inutilizados...
O chão é a casa das portas e das janelas
Abertas.
E o ser humano que ali sobrevive
Como se fosse uma esfinge,
Como se fosse parte da viva vitrine,
Como se fosse a parte de nosso lixo...
...nada mais é
do que nunca
ter sido.
ah, Tristicidade...

(baseado em uma fotografia de Leandro Selister em Tristicidade)

Nenhum comentário:

Postar um comentário